quinta-feira, 12 de abril de 2018

Uma camiseta e um conflito moral, filosófico, político


    O dia começou tenso. Antes das oito da manhã, já me deparei com um elemento nas redes sociais compartilhando um vídeo editado, manipulado, falso, para incentivar o ódio a certo político. Não consigo compreender como as pessoas se deixam enganar por essas mentiras e ainda têm coragem de passar adiante, sem verificar a veracidade da informação. Mas aí, saindo do trabalho, fui ao mercado. Na entrada, um homem com a camiseta do Bolsonaro. De relance, percebi que algo estava escrito atrás da vestimenta de extremo mau gosto. Mas, como não costumo de ser indiscreta, evitei olhar.
Eis que, diante do balcão dos frios, o eleitor de Bolsonaro para a minha frente. Descubro o que está escrito nas costas da camiseta. Uma frase de Martin Luther King Jr. A essa altura, quase sentei no meio do mercado e comecei a chorar. Inacreditável.

     Para quem não sabe, Bolsonaro foi condenado, ano passado, a pagar uma indenização no valor de cinquenta mil reais, por ter ofendido e depreciado a população negra e indivíduos pertencentes às comunidades quilombolas, ao proferir em palestra no Clube Hebraica, Rio de Janeiro, as seguintes frases:
“O afrodescendente mais leve lá (referindo-se a uma comunidade quilombola) pesava sete arrobas.”
“Não fazem nada, eu acho que nem pra procriador servem mais.”
Portanto, Bolsonaro foi condenado por racismo.
    A outra pessoa citada na camiseta é Martin Luther King Jr. Antes de qualquer explicação, ele era negro. Um importante ativista norte-americano que lutou contra a discriminação racial, tornando-se um dos mais importantes líderes dos movimentos pelos direitos civis dos negros nos EUA. Também recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1964. Ou seja, alguém que lutava contra o racismo.
Bolsonaro tem como seu lema maior a frase "bandido bom é bandido morto" e frequentemente afirma que a solução para a escalada da violência no Brasil é responder com mais violência.
Martin Luther King Jr pregava exatamente o contrário e se recusava a usar a violência em seus protestos. 

    É por isso que colocar Bolsonaro e Martin Luther King Jr na mesma camiseta é algo incompreensível para quem conhece minimamente a trajetória dessas duas pessoas. O que me leva novamente ao problema do vídeo fake que assisti pela manhã. Pergunto-me como é possível tanta incoerência. Creio que a resposta deva ser a ignorância, ignorância essa alimentada pela falta de conhecimento histórico e político, de leitura, de interpretação.
    A propósito, a frase escrita na camiseta, de autoria de Luther King, era:

 “O QUE ME PREOCUPA NÃO É O GRITO DOS MAUS, MAS O SILÊNCIO DOS BONS”

    O que me preocupa é o radicalismo burro, a ignorância, o endeusamento de pessoas totalmente incapacitadas para liderar. E a ingenuidade daqueles que acreditam em falsos moralismos, em arautos da honestidade, e que vão sendo cada vez mais seduzidos por falsidades, exageros, por uma imagem sem conteúdo, uma casca de hipocrisia e mentira.
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