domingo, 17 de março de 2019

O menino e o conhecimento



   Está em exibição, na plataforma de streaming Netflix, o filme “O menino que descobriu o vento”, inspirado na vida real de William Kambkwamba, que nasceu numa vila de camponeses no Malaui. Nesse lugar, a fome causada pela seca resultou em grandes transtornos para a população. William, observando o dínamo que fazia o farol da bicicleta de seu professor acender, teve sua curiosidade despertada. Pesquisando escondido na biblioteca da escola (que não podia mais frequentar, pois seus pais não conseguiam pagar as mensalidades), criou um sistema, usando sucatas, para bombear a água e até mesmo gerar eletricidade. Dessa forma, a comunidade pode se beneficiar do invento e vencer a fome e a seca.

    Essa história lembra a vida de outra pessoa que conseguiu, através do estudo e do conhecimento, transformar a realidade de um povoado no Quênia: Wangari Maathai teve um destino diferente de outras meninas de sua geração.  Ela pode estudar desde cedo, aprendeu inglês e ingressou num programa para estudantes africanos, graduando-se em Biologia no Kansas. Mais tarde, fez mestrado e doutorado na área. Regressou para o lugar onde nasceu e cresceu vendo as árvores sendo derrubadas para o surgimento de lavouras comerciais, o que acabava por destruir a biodiversidade local e influenciar no clima local, favorecendo as secas, e fundou o Movimento Cinturão Verde. Esse trabalho consistia numa campanha de reeducação ambiental voltada para as mulheres, com plantio de árvores que rendia empregos, comida, combustível e melhoria do solo. Por esse feito, Wangari recebeu um Nobel da Paz, em 2004.   Quando faleceu, em 2011, havia mais de 47 milhões de árvores plantadas graças a sua iniciativa. Há um livro incrível, para o público infantil, que fala sobre essa mulher, com o título “Plantando as árvores do Quênia”.
    A vida e a trajetória dessas duas pessoas têm muitas coisas em comum, mas a principal delas é o papel que o estudo e conhecimento representaram, não somente em suas vidas, mas nas vidas de muitas outras pessoas, transformando a realidade de comunidades inteiras. É preocupante constatar que há um movimento contrário a ele, que se baseia em teorias da conspiração e que refuta cientistas, historiadores, pesquisadores e estudiosos renomados, preferindo aderir a ideias como a da “Terra Plana”. Há os que acreditam que vacinas não protegem das doenças e sim causam autismo e outros efeitos colaterais jamais comprovados. Outros duvidam de Darwin e Newton. Ideias errôneas, baseadas em estudos falsos e superficiais surgem a todo momento, potencializadas e disseminadas para milhões de pessoas através da internet. Para agravar a situação, aqui no Brasil, professores e escolas são colocados na berlinda, apontados como vilões, como se estivessem trabalhando para doutrinar a população e implantar o “marxismo cultural” e a “ideologia de gênero”. Se William ou Wangari não acreditassem nos seus professores, se não lessem bons livros de autores sérios, e fossem terraplanistas, jamais teriam tido ideias e atitudes tão geniais e importantes.
  Quando não valorizamos o conhecimento historicamente produzido e reconhecido pela humanidade, todos perdemos. Colocamos nossa própria existência em risco. Porque o conhecimento transforma. O conhecimento salva. O conhecimento liberta.





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