Essa semana o ministro da
Educação foi demitido (ou demitiu-se) após uma breve passagem pelo cargo.
Aguardamos o anúncio de um novo nome para assumir a pasta e, quem sabe, com
muita esperança, seja ele o “Salvador da Pátria Educadora”.
Apesar de TODO MUNDO afirmar
que a solução dos problemas do Brasil está na educação, desde doutores da
Universidade até o balconista da lojinha da esquina, estamos longe de viver num
país no qual essa questão seja levada a sério.
Digo isso porque vivo, ano
após ano, ministro após ministro, o mesmo dilema em sala de aula: alunos que
passam pela escola e não aprendem o mínimo necessário. Crianças que chegam ao
4º ano do Ensino Fundamental analfabetas; algumas, incapazes de escrever o
próprio nome.
Nos últimos anos o governo
tem se esforçado para melhorar a qualidade da educação, implantando programas
como o PNAIC- Pacto Nacional Pela Alfabetização na Idade Certa. Sabemos que os
professores necessitam de formação continuada para que tenham condições de
realizar um bom trabalho em sala de aula. No entanto, ao colocar a “meta” de
alfabetizar até os oito anos (e que deveria ser concebida como data limite,
extrema), ou seja, até o terceiro ano, talvez o beija-flor da ideia inicial
tenha se convertido num urubu. Porque alguns professores, senão muitos, podem
pensar: “Bem, meu aluno não aprendeu no 1º ano, vai aprender no 2º”. E o
professor do 2º ano, por sua vez, imagina: “Fulano não está alfabetizado, mas
aprenderá a ler e escrever no 3º”. Resultado: Alunos de terceiro ano que não
sabem ler nem escrever. Tenho um exemplo em minha turma esse ano, e tive vários
no ano passado, e no anterior...
O mais triste é que provavelmente
eu não consiga alfabetizar essa criança, que tem dez anos e está analfabeta, e
ao mesmo tempo dar aula para os vinte e poucos que necessitam aprender e
progredir nos estudos. E a solução não está em reprovar: ela já foi reprovada,
em 2014.
Esse exemplo demonstra como
nós, professores, somos vítimas de “armadilhas” armadas há décadas em nosso
país e que nos “apanham”; conosco os alunos também são “apanhados”. Ao mesmo
tempo em que programas como o PNAIC podem nos transmitir ideias errôneas,
fazemos parte de um sistema falho, ineficiente, que nos leva a fazer de conta
que ensinamos. Quem perde é sempre o aluno.
Precisamos enfrentar: há sim
ritmos diferentes de aprendizagem e o bom professor sabe trabalhar com classes
heterogêneas. Mas no tempo certo, com apoio pedagógico, material didático
adequado... E, sobretudo, condições de dar atenção aos alunos que demonstram
maiores dificuldades para que possam superá-las e acompanhar o restante da
turma. A questão não está em aprovar ou reprovar (quantos alunos reprovam e
continuam não aprendendo?), mas sim em assegurar meios efetivos e sistemáticos
para que os professores e escolas consigam ensinar de verdade. Em outras
palavras: reforço escolar, atividades extraclasse monitoradas, bibliotecas com acervo
de boa qualidade, recursos humanos suficientes...
É, senhor futuro Ministro da
Educação... Meu aluno analfabeto do 3º ano está esperando. Ele é um exemplo
representativo de milhares de crianças que abrem os livros fornecidos pelo
PNAIC, Brasil afora, e não conseguem ler uma palavra. Um pequeno grande desafio
da educação brasileira. Uma “Pátria Educadora” não se faz com escolas de “faz-de-conta”.