sexta-feira, 20 de março de 2015

O pequeno grande desafio para o próximo Ministro da Educação



      Essa semana o ministro da Educação foi demitido (ou demitiu-se) após uma breve passagem pelo cargo. Aguardamos o anúncio de um novo nome para assumir a pasta e, quem sabe, com muita esperança, seja ele o “Salvador da Pátria Educadora”.
Apesar de TODO MUNDO afirmar que a solução dos problemas do Brasil está na educação, desde doutores da Universidade até o balconista da lojinha da esquina, estamos longe de viver num país no qual essa questão seja levada a sério.
         Digo isso porque vivo, ano após ano, ministro após ministro, o mesmo dilema em sala de aula: alunos que passam pela escola e não aprendem o mínimo necessário. Crianças que chegam ao 4º ano do Ensino Fundamental analfabetas; algumas, incapazes de escrever o próprio nome.
          Nos últimos anos o governo tem se esforçado para melhorar a qualidade da educação, implantando programas como o PNAIC- Pacto Nacional Pela Alfabetização na Idade Certa. Sabemos que os professores necessitam de formação continuada para que tenham condições de realizar um bom trabalho em sala de aula. No entanto, ao colocar a “meta” de alfabetizar até os oito anos (e que deveria ser concebida como data limite, extrema), ou seja, até o terceiro ano, talvez o beija-flor da ideia inicial tenha se convertido num urubu. Porque alguns professores, senão muitos, podem pensar: “Bem, meu aluno não aprendeu no 1º ano, vai aprender no 2º”. E o professor do 2º ano, por sua vez, imagina: “Fulano não está alfabetizado, mas aprenderá a ler e escrever no 3º”. Resultado: Alunos de terceiro ano que não sabem ler nem escrever. Tenho um exemplo em minha turma esse ano, e tive vários no ano passado, e no anterior...
O mais triste é que provavelmente eu não consiga alfabetizar essa criança, que tem dez anos e está analfabeta, e ao mesmo tempo dar aula para os vinte e poucos que necessitam aprender e progredir nos estudos. E a solução não está em reprovar: ela já foi reprovada, em 2014.
        Esse exemplo demonstra como nós, professores, somos vítimas de “armadilhas” armadas há décadas em nosso país e que nos “apanham”; conosco os alunos também são “apanhados”. Ao mesmo tempo em que programas como o PNAIC podem nos transmitir ideias errôneas, fazemos parte de um sistema falho, ineficiente, que nos leva a fazer de conta que ensinamos. Quem perde é sempre o aluno.
           Precisamos enfrentar: há sim ritmos diferentes de aprendizagem e o bom professor sabe trabalhar com classes heterogêneas. Mas no tempo certo, com apoio pedagógico, material didático adequado... E, sobretudo, condições de dar atenção aos alunos que demonstram maiores dificuldades para que possam superá-las e acompanhar o restante da turma. A questão não está em aprovar ou reprovar (quantos alunos reprovam e continuam não aprendendo?), mas sim em assegurar meios efetivos e sistemáticos para que os professores e escolas consigam ensinar de verdade. Em outras palavras: reforço escolar, atividades extraclasse monitoradas, bibliotecas com acervo de boa qualidade, recursos humanos suficientes...
         É, senhor futuro Ministro da Educação... Meu aluno analfabeto do 3º ano está esperando. Ele é um exemplo representativo de milhares de crianças que abrem os livros fornecidos pelo PNAIC, Brasil afora, e não conseguem ler uma palavra. Um pequeno grande desafio da educação brasileira. Uma “Pátria Educadora” não se faz com escolas de “faz-de-conta”.
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