Eu estava esperando que o filme
"Quatro vidas de um cachorro" chegasse aos cinemas para assisti-lo.
Mas então aconteceu o vazamento de um vídeo no qual, durante as filmagens, um
cão da raça pastor alemão é supostamente maltratado. A estreia do filme foi
adiada e entidades que defendem os direitos dos animais estão promovendo um
boicote ao mesmo. Confesso que perdi a vontade de ver essa história. Mas isso
fez com que recordasse dos outros filmes que já assisti e que traziam animais
no elenco. O que não terá acontecido com eles? O telespectador fica
impressionado com as cenas fofas de cães e gatinhos, se diverte, mas o que
acontece por trás das câmeras é uma incógnita. A não ser quando vaza um vídeo.
Há muita hipocrisia envolvida nesse caso, e não só de quem produz o filme.
Quantas pessoas vão boicotar a película e discutir o assunto durante o almoço de
domingo, saboreando um suculento churrasco, sem pensar que o boizinho também
sofreu ao morrer? Quantos de nós nos indignamos com notícias de cães
abandonados ou gatos que morrem envenenados e depois vão participar dos rodeios
ou vaquejadas da vida?
Fugindo um pouco da questão animal, esse
assunto remete a uma certa foto que vi no jornal esses dias. Nela, há uma
família aparentemente normal, todos de vermelho e com gorrinhos de Natal: mãe,
padrasto/pai, filhos. Foi publicada no Facebook. Talvez, no momento em que a
foto era tirada, a singela Mamãe Noela já teria decidido como matar o próprio filho,
esconder o seu corpo num tapete e depois atear fogo, com a ajuda do marido. Não
havia espírito natalino nessa família, muito menos amor. Mas havia uma foto
hipócrita, a imagem de uma felicidade maquiada. Como o filme divertido, que
conta a história de um cachorro fofo, mas que nos bastidores usa a crueldade
para filmar as cenas com o animal.
O filme e a foto são exemplos de que a
hipocrisia é a maquiagem nossa de cada dia.