sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

A hipocrisia é a maquiagem da vida



 

Eu estava esperando que o filme "Quatro vidas de um cachorro" chegasse aos cinemas para assisti-lo. Mas então aconteceu o vazamento de um vídeo no qual, durante as filmagens, um cão da raça pastor alemão é supostamente maltratado. A estreia do filme foi adiada e entidades que defendem os direitos dos animais estão promovendo um boicote ao mesmo. Confesso que perdi a vontade de ver essa história. Mas isso fez com que recordasse dos outros filmes que já assisti e que traziam animais no elenco. O que não terá acontecido com eles? O telespectador fica impressionado com as cenas fofas de cães e gatinhos, se diverte, mas o que acontece por trás das câmeras é uma incógnita. A não ser quando vaza um vídeo. Há muita hipocrisia envolvida nesse caso, e não só de quem produz o filme. Quantas pessoas vão boicotar a película e discutir o assunto durante o almoço de domingo, saboreando um suculento churrasco, sem pensar que o boizinho também sofreu ao morrer? Quantos de nós nos indignamos com notícias de cães abandonados ou gatos que morrem envenenados e depois vão participar dos rodeios ou vaquejadas da vida?

            Fugindo um pouco da questão animal, esse assunto remete a uma certa foto que vi no jornal esses dias. Nela, há uma família aparentemente normal, todos de vermelho e com gorrinhos de Natal: mãe, padrasto/pai, filhos. Foi publicada no Facebook. Talvez, no momento em que a foto era tirada, a singela Mamãe Noela já teria decidido como matar o próprio filho, esconder o seu corpo num tapete e depois atear fogo, com a ajuda do marido. Não havia espírito natalino nessa família, muito menos amor. Mas havia uma foto hipócrita, a imagem de uma felicidade maquiada. Como o filme divertido, que conta a história de um cachorro fofo, mas que nos bastidores usa a crueldade para filmar as cenas com o animal.
         O filme e a foto são exemplos de que a hipocrisia é a maquiagem nossa de cada dia.

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Palavras são armas



   Primeira postagem do ano. Em alguns momentos me perguntei  sobre o que seria, sobre o que escreveria no primeiro mês de 2017, após um ano difícil e frustrante. E eis que o ano se inicia, infelizmente, com  muitas tragédias e notícias ruins. A chacina em Campinas, por exemplo.  Não me passou pela cabeça escrever sobre isso, até porque muitos já o fizeram. Tenho apenas duas considerações a respeito. A primeira: o assassino não era um monstro. Ele foi extremamente racional, planejou tudo e até escreveu o que pretendia fazer. A segunda consideração: antes de usar a arma que matou a ex-mulher, o filho e mais dez pessoas, ele foi atingido por outra arma. A palavra. Ou as palavras, que ajudaram a alimentar seu ódio.

        Pensando sobre isso,  nas palavras que esse homem leu e escreveu nas redes sociais, ouviu na TV ou em conversas com amigos,alimentando os pensamentos por trás delas, que foram crescendo, avolumando-se, tomando conta da sua consciência e dando-lhe coragem para ir em frente, dei-me conta de que as palavras são armas. Armas para o bem ou para o mal.
  
     Percebi  também que, depois de começar a escrever nesse blog, de expressar minhas ideias e argumentos, de publicar alguns artigos no jornal local, as pessoas passaram a me respeitar mais e a tentar não discordar quando emito alguma opinião numa conversa. Não porque eu seja boa em discussão ou esteja sempre certa. Noto que alguns têm receio, pois sabem que escrevo sobre acontecimentos cotidianos. Que uma simples observação de um fato que para muitos é banal, para mim torna-se objeto de reflexão. Porque, ao contrário da palavra falada (tenho uma oratória ruim, sou tímida,  gaguejo e me confundo ao falar), a palavra escrita me dá segurança. Eu não domino o que escrevo, pelo contrário. As palavras vão chegando, geralmente quando menos espero, e vão se juntando. Quando vejo tenho um artigo pronto ou dois livros na cabeça, como agora. E essas palavras me dão força. Elas são minha arma. É isso que provoca o receio em algumas pessoas.

       Mas, como disse antes, são armas para o bem ou para o mal. Uma frase pode destruir a infância de uma criança ou recuperar a esperança de um jovem desiludido com a vida. Pode incentivar um aluno e aumentar sua autoestima ou convencê-lo de que é um fracassado. Palavras curam as pessoas através da fé, revelada em orações e preces, mas também levam ao fanatismo que ceifa muitas vidas pelo mundo, através do radicalismo religioso. Palavras iniciam e destroem relacionamentos. Palavras são armas que encorajam pessoas a matarem sua famílias. Porque a palavra é um símbolo do pensamento. Racismo, homofobia, feminismo, bullyng , tudo isso é definido por pensamentos expressos em palavras. 

       Eu desejo profundamente que nesse ano que se inicia possamos utilizar as palavras  como armas, mas mirando num futuro com mais entendimento, solidariedade, inteligência e paz.

P.S. : A música do vídeo abaixo fala sobre a força das palavras, uma mulher em situação de risco e um homem  de nada. Perfeito para o momento.

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