Há uns vinte
anos visitei um museu que fica localizado dentro de uma antiga fortaleza no
litoral de Santa Catarina. Entre canhões, manequins fardados como soldados da época do
Império e outras peças históricas,
havia, numa sala enorme e escura, um esqueleto incompleto de baleia, não
recordo de qual espécie, exposto. Eu nunca vira uma baleia de verdade antes, ao
vivo. Ou o que restara dela. Recordo até hoje da sensação que tive, algo único,
olhando para o tamanho daquela ossada. Jamais imaginara algo assim. Era como se
o animal estivesse me dizendo: veja como você é pequena. Veja minha magnitude.
Sim, diante de mim, você é insignificante.
Eu senti um
enorme respeito diante daquela baleia, e nunca mais esqueci isso. Anos mais
tarde, na minha primeira viagem de avião, na qual eu estava totalmente
aterrorizada, pois tinha certeza que ele cairia, ousei olhar pela janela,
quando nos aproximávamos do litoral de São Paulo, e aos poucos iam se
delineando os contornos da cidade lá embaixo, igual no Google Maps,
aproximando, quarteirões, prédios, casas, as avenidas... Algo enorme, parecendo
infinito, e imaginei quantas pessoas estavam abaixo de mim, cada uma delas
envolvida em sua própria vida, presa no trânsito, dentro de um escritório, as
crianças nas escolas, os doentes nos hospitais, centenas, milhares, milhões de
vidas fervilhando, correndo, trabalhando, morrendo, nascendo, como se fosse um
formigueiro humano.
E então o
mesmo sentimento que tive contemplando a ossada da baleia me invadiu,
fazendo-me concluir que sim, somos pequenos, somos apenas formigas, ou melhor,
somos iguais a elas, em sua insignificância, somos grãos de areia, partículas
de pó. Somos pouco. E essa constatação não é em nada
desesperadora, pelo contrário, ela nos liberta do fardo de acreditarmos que
somos únicos e especiais. Porque não somos. Somos apenas uma partícula de
insignificância buscando motivos e explicações dentro de um mundo complexo,
vasto e inexplicável.