quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Tem mais gente que pensa como eu!

Reportagem do UOL dessa quarta-feira:

Arcebispo reclama de falta de atenção do Ocidente a massacres na Nigéria


Em meio à comoção gerada pelos atentados terroristas em Paris, na França, um arcebispo nigeriano acusou países ocidentais de ignorarem a ameaça representada pelo grupo extremista Boko Haram.

O Arcebispo da cidade de Jos, Ignatius Kaigama, ainda pediu que a mesma atenção dada aos atentados na França seja dada aos militantes que atuam com cada vez mais violência no nordeste do país africano.

Segundo ele, o mundo precisa agir de forma mais determinada para conter o avanço do Boko Haram na Nigéria.

No último fim de semana, 23 pessoas foram mortas por três mulheres-bomba, uma das quais tinha apenas 10 anos de idade.

Outras centenas de mortes foram registradas na semana passada, segundo relatos, durante a captura pelo Boko Haram da cidade de Baga, no Estado de Borno, no nordeste do país.

Em entrevista ao programa Newsday, da BBC, o arcebispo nigeriano disse que o massacre em Baga é a prova de que o Exército do país não consegue conter o grupo extremista.

"É uma tragédia monumental. Deixou a todos na Nigéria muito tristes. Mas parece que estamos desamparados. Porque, se fossemos capazes de deter o Boko Haram, já o teríamos feito. Eles continuam a atacar, matar e a tomar territórios impunemente", disse Kaigama.

Segundo ele, a luta contra o extremismo no país requer o mesmo apoio internacional e espírito de unidade que foi demonstrado após os ataques de militantes na França.

"Precisamos que este espírito se multiplique, não apenas quando isso ocorre na Europa, mas também na Nigéria, no Níger ou em Camarões."

Mulheres-bomba

No domingo passado, duas mulheres-bomba mataram quatro pessoas e deixaram mais de 40 feridas na cidade de Potiskum.

Um dia antes, uma menina realizou outro ataque suicida em Maiduguri, a principal cidade do nordeste do país, matando ao menos 19 pessoas.

No último mês, mais de 30 pessoas foram mortas em ataques suicidas simultâneos na cidade de Jos, que tem cristãos e islâmicos em sua população.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, condenou os ataques do Boko Haram, que classificou como "atos depravados".

Em junho, o Reino Unido disse que intensificaria sua ajuda ao país nas áreas militar e de educação, para conter o Boko Haram.

Essa ajuda também inclui treinamento das tropas do país, assim como vêm fazendo os Estados Unidos.

No entanto, a Nigéria criticou o governo americano por sua recusa de vender armas ao país alegando que as tropas nigerianas estavam cometendo abusos de direitos humanos.

Uma iniciativa liderada pelo governo francês pediu que Nigéria, Níger, Camarões e Chade contribuíssem com 700 soldados cada para uma força internacional contra o Boko Haram, mas nenhum país implementou o plano.

Violência chocante

O Exército nigeriano informou que está tentando retomar a cidade de Baga, que está sob o controle de militantes, mas não deu detalhes da operação.

Também disse que, no último sábado, conseguiu impedir que o Boko Haram assumisse o controle de Damaturu, outra grande cidade do nordeste nigeriano.

Will Ross, correspondente da BBC News em Lagos, a principal cidade da Nigéria, diz que a violência no país não tem fim e é cada vez mais chocante, citando o uso de uma criança em um dos ataques do último fim de semana.

"As Forças Armadas nigerianas tiveram algumas vitórias, mas têm uma tarefa muito difícil, de proteger civis de homens-bomba e atiradores que estão espalhados por uma grande área no nordeste do país. Por isso, com frequência, são dominadas pelos militantes e falham em sua missão. As autoridades do país não gostam de ouvir isso, mas é verdade", afirma Ross.

"O mundo está lentamente começando a manifestar indignação com a recente violência, mas, além disso, e de uma ajuda limitada, não parece haver vontade de se envolver mais profundamente no conflito."

sábado, 10 de janeiro de 2015

Somos todos Boko Haram



         Esta semana acompanhamos as consequências terríveis da ação de terroristas em Paris. Foram três dias de muita tensão. A mídia noticiou exaustivamente a ação da polícia, que culminou na morte dos radicais dispostos a matar e morrer.
       Como todos sabem, foram doze vítimas no ataque ao jornal Charlie Hebdo na quarta-feira, entre eles jornalistas e policiais. Sexta –feira  algumas pessoas foram feitas reféns num supermercado de comida judaica e  quatro acabaram mortas pelo terrorista Amedy Coulibaly.
       A reação do mundo foi de repúdio à ação dos terroristas islâmicos e também de demonstrações de solidariedade às vítimas e seus familiares. Está prevista para domingo uma manifestação em Paris com a presença de diversos líderes da Europa. É o momento em o mundo clama pela paz.
        No entanto, ao mesmo tempo em que esses acontecimentos se desenrolavam na França, centenas de pessoas eram massacradas na Nigéria pelos também terroristas que acreditam ter licença para matar devido a sua visão distorcida da fé. A cobertura da mídia foi bem mais modesta nesse caso. Quase não há fotos e não se sabe ao certo quantas pessoas morreram. O que se sabe é que provavelmente, desde o ano passado, o Boko Haram matou mais de duas mil pessoas em alguns países africanos, além de sequestrar centenas de meninas.
        O que faz com que a morte de jornalistas e policiais franceses, brancos, pareça ser mais grave que a morte dessas milhares de pessoas africanas negras e pobres? E se o Boko Haram sequestrasse cem meninas brancas americanas ou francesas, como seria a reação da mídia e da comunidade internacional?
        Enquanto o mundo para nesse domingo para prestar solidariedade às vítimas francesas da intolerância e da crueldade, outras centenas de vidas podem estar sendo tolhidas pela ação de terroristas. Nosso descaso para com essa situação nos torna cúmplices desses malucos. Afinal, nem eu nem você iremos às ruas protestar ou espalharemos no twitter mensagens sobre elas. Somos todos Boko Haram.


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