Qualquer pessoa minimamente informada sabe quem é Malala Yousafzai: menina paquistanesa, a
pessoa mais jovem laureada com um Prêmio Nobel, Malala luta pelo direito à
educação especialmente das meninas. É sua a famosa frase “Um livro, uma caneta,
uma criança e um professor podem mudar o mundo.” Apesar das dificuldades, de
morar numa área dominada pelo Talibã, resistiu bravamente, dia após dia,
enfrentando o medo e a insegurança, para frequentar a escola e aprender, sendo
alvejada no rosto por causa disso, ficando entre a vida e a morte. Malala
sobreviveu e é um exemplo de coragem e persistência.
Essa história não é novidade e pode ser conferida em detalhes
nas reportagens de jornais e revistas bem como nos livros sobre a corajosa
menina. Bem diferente de trajetórias como a de Mariana*, uma menina de quase
nove anos que, até 2015, nunca havia frequentado a escola. Mariana não mora no
Paquistão. Nunca foi ameaçada de morte pelo Talibã. Ela vive no Brasil, país
que praticamente universalizou o acesso à escola pública nos últimos anos. Por
que motivo, então, Mariana esperou tanto para ir à escola? Porque sua mãe não
queria. Sim, apesar de ser responsabilidade dos pais ou responsáveis, prevista
em lei, a matrícula das crianças na rede pública de ensino, ainda há quem não o
faça. Muitos podem ser os motivos; com certeza a dificuldade de acesso não
constitui um deles.
Provavelmente quem
evita que um filho frequente a escola não está suficientemente convencido da
importância dela na vida de uma pessoa. Ao contrário do que acontecia com
Malala, cujo pai, professor e fundador da escola que a filha frequentava, homem
culto, informado, muitos brasileiros ainda não estão suficientemente convencidos
sobre a importância de aprender, de estar numa sala de aula. Aí aparecem as
Marianas, crianças deslocadas numa turma de 1º ano, que não frequentaram a pré-escola
ou Educação Infantil, que poderiam estar juntamente com alunos de sua idade,
talvez no 4º ano, mas que se encontram numa triste situação de atraso e
defasagem da aprendizagem.
Felizmente, vivemos (teoricamente?) num país livre e democrático
no qual não existe Talibã. Mas precisamos todos, adultos, idosos, jovens e
crianças, do espírito e da coragem de Malala. E, sobretudo, de mais informação
e conhecimento, pois somente através deles as Marianas estarão na escola,
felizes e aprendendo, no tempo certo.
*Nome fictício.
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