Uma
amiga próxima, com mais de sessenta anos, era vítima constante de violência
psicológica praticada pelo esposo, com o qual era casada há quase quarenta anos
e tinha filhos, netos e uma vida estruturada. Ele demonstrava um ciúme
descabido e monitorava todos os passos da mulher. Depois de algum tempo, chegou
ao extremo da violência física, sendo que minha amiga ficou toda marcada, com
hematomas enormes na face e dentes quebrados. Apesar da história de amor que
vivera durante tantos anos com seu marido, ela não hesitou em procurar a
polícia, tomar todas as providências cabíveis e previstas em lei, além de
romper com o ciclo da violência, saindo de casa e pondo um fim no
relacionamento.
Minha
amiga recusou-se a morrer de – ou por- amor. Na verdade, uma mulher vítima de
violência não tem muitas condições de discernir entre amor e culpa, amor e
vergonha, amor e medo. Situações assim são resultados de abusos constantes e
diários, que se repetem por períodos variados de tempo. Não são todas as
mulheres que têm a coragem de tomar uma atitude e terminar o relacionamento
violento. Infelizmente, as que insistem neles podem vir a engrossar as
estatísticas de violência: são treze mulheres mortas por dia em nosso país. Enquanto
você lê esse texto, quantas não terão sido violentadas e abusadas? Há ainda o caso daquelas que tomam coragem de
acabar a relação, mas continuam sendo agredidas e ameaçadas pelos ex-maridos ou
namorados que não aceitam a separação. O Brasil é o quinto país do mundo onde
mais se matam mulheres – e o pior é que quase metade dessa barbaridade é
cometida por familiares. Infelizmente, os números apenas ilustram os fatos que
vemos diariamente pela TV, as notícias que lemos no jornal e na internet.
Sabe-se
que são muitos fatores que contribuem para essa violência. Talvez o mais
discutido seja o fato de nossa sociedade colocar a mulher como objeto. Objetos
são feitos para serem usados e, quando não são mais úteis, descartados. Ou pedaços
de carne, corpos bonitos, bronzeados e perfeitos (que o digam os comerciais de
cerveja!) que estão aí para serem desfrutados e dar prazer ao homem. Objetos,
carne, a mulher como posse do homem, do marido, do namorado. E, caso algo
aconteça, se ela adotar uma postura mais independente ou que refute essa
cultura machista, poderá sofrer as conseqüências e morrer de amor. Não, de amor
não. Morrer em decorrência da ignorância e da estupidez do assassino, nas mãos
de um covarde.
P.S: Não poderia deixar de fora desse post um fato ocorrido durante a
passagem recente da banda Pearl Jam (da
qual sou fã) pela Colômbia. Na ocasião, os integrantes vestiram camisetas
laranja durante o show em Bogotá, em apoio à iniciativa “ni una menos”. As
camisetas são relacionadas à campanha #orangetheworld, com 16 dias de ativismo
contra a violência baseada em gênero. E também deixo a letra da música “Better
man”,que fala justamente sobre uma mulher vítima de violência doméstica e que
justifica sua permanência na relação por não conseguir encontrar um homem
melhor. Vale a pena ler e escutar.
Homem melhor
Esperando, olhando o relógio, são quatro horas, isso tem que
acabar
Diga a ele que não aguenta mais, ela pratica o seu discurso
Assim que ele abre a porta, ela rola
Finge dormir enquanto ele a observa
Ela mente e diz que está apaixonada por ele, não consegue
achar um homem melhor
Ela sonha em cores, ela sonha em vermelho, não consegue
achar um homem melhor
Não consegue achar um homem melhor
Não consegue achar um homem melhor
Oh
Falando para si mesma, não há mais ninguém que precisa
saber, ela diz para si mesma
Oh
Memórias voltam de quando ela era corajosa e forte
E esperando o mundo vir até ela
Ela jurava que sabia, agora ela jura que ele se foi
Ela mente e diz que está apaixonada por ele, não consegue
achar um homem melhor
Ela sonha em cores, ela sonha em vermelho, não consegue
achar um homem melhor
Ela mente e diz que ainda o ama, não consegue achar um homem
melhor
Ela sonha em cores, ela sonha em vermelho, não consegue
achar um homem melhor
Não consegue achar um homem melhor
Não consegue achar um homem melhor
Yeah
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