Eu já escrevi sobre isso há
alguns anos. Infelizmente, os motivos que me levaram a escrever continuam os
mesmos: a enorme diferença que existe entre a aprendizagem de crianças pobres,
humildes e de escola pública e os alunos com mais condições financeiras e de
escola privada.
Acontece que um fato me fez
refletir que nada mudou. Meus filhos estudam em escola privada e o mais novo
terá como avaliação, no 5º ano do Ensino Fundamental, produzir um texto em
Inglês. Para estabelecer uma comparação, a grande maioria dos alunos de escola
pública, na mesma série, seria incapaz de produzir um texto simples em Língua
Portuguesa.
Não sou eu que estou dizendo
isso, apesar de vivenciar as duas realidades durante o ano todo. Basta dar uma
olhada nos resultados das avaliações feitas nas escolas públicas para descobrir
que continuamos lidando com os mesmos problemas de sempre: alunos não
alfabetizados ao final do Ensino Fundamental; desempenho medíocre em
matemática; incapacidade de ler e interpretar textos simples.
Também não é novidade que as
políticas públicas no Brasil têm uma vocação para o fracasso, porque não há
compromisso verdadeiro com a educação. Podem até tentar, como no caso do Pacto
Nacional Pela Alfabetização na Idade Certa, mas falta coerência e persistência
para fazer a coisa funcionar. Exemplo disso é que num momento se quer alfabetizar ao
final do terceiro ano, depois ao final do segundo, e assim por diante.
Na minha opinião, o que mais
prejudica a aprendizagem dos alunos de escola pública é a falta de investimento
e estrutura ( física e de recursos humanos), adequados. Nos anos iniciais, um
professor acumula todas as funções, ensina todas as disciplinas,
independentemente de sua área de
formação. Assim, alguém formado em Educação Física pode estar alfabetizando
crianças, sem ter o mínimo de conhecimento sobre isso. Então vem o governo federal e institui o
Programa Mais Alfabetização, para colocar professores monitores no auxílio aos
educadores dos primeiros e segundos anos.
A estratégia, no que diz respeito aos professores estaduais gaúchos,
dificilmente será implantada, pois eles ganham um adicional de unidocência, por
serem professores únicos em suas turmas. Com outro profissional em sala de aula
ajudando, o professor perde a unidocência, o salário diminui. Algo preocupante
para quem já ganha muito mal. Também precisamos lembrar que os setores nas
escolas públicas em geral estão prejudicados: faltam
bibliotecas com bom acervo e bibliotecários capacitados; as salas de informática
são obsoletas, com equipamentos ultrapassados e internet lenta; há escolas que sequer contam com coordenador pedagógico.
Quando pensamos no ensino
privado, a realidade é outra. Há professores específicos e formados nas
disciplinas de Inglês e Educação Física,
boas bibliotecas que funcionam, salas de informática utilizáveis, pessoal de
apoio suficiente para o bom andamento da rotina escolar. Há problemas, é claro.
No caso da escola em que meus filhos estudam, considero exagerada a preocupação
com notas e provas e o conteúdo é excessivo; o currículo poderia ser mais
enxuto. Tudo tendo em vista o vestibular. Mas as crianças aprendem. Como
aprenderiam também as crianças das escolas públicas, se a legislação fosse
cumprida e o que está no papel fosse concretizado.
Apesar de tudo, tenho esperança
que um dia esse abismo diminua e eu possa escrever textos bem diferentes desse.
http://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2017-01/matematica-apenas-73-aprendem-o-adequado-na-escola
https://www.revistaencontro.com.br/canal/atualidades/2017/10/maioria-dos-alunos-do-3-ano-do-ensino-fundamental-nao-sabem-ler-ou-ca.html
http://www.cartaeducacao.com.br/reportagens/argumentacao-%E2%80%A8ou-reproducao/
https://novaescola.org.br/conteudo/7096/a-alfabetizacao-no-brasil-nao-avanca-sera-que-o-pnaic-falhou
http://www.brasil.gov.br/educacao/2018/01/escolas-e-municipios-ja-podem-aderir-ao-programa-mais-alfabetizacao