sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Um abismo que só aumenta




   Eu já escrevi sobre isso há alguns anos. Infelizmente, os motivos que me levaram a escrever continuam os mesmos: a enorme diferença que existe entre a aprendizagem de crianças pobres, humildes e de escola pública e os alunos com mais condições financeiras e de escola privada.
  Acontece que um fato me fez refletir que nada mudou. Meus filhos estudam em escola privada e o mais novo terá como avaliação, no 5º ano do Ensino Fundamental, produzir um texto em Inglês. Para estabelecer uma comparação, a grande maioria dos alunos de escola pública, na mesma série, seria incapaz de produzir um texto simples em Língua Portuguesa.
     Não sou eu que estou dizendo isso, apesar de vivenciar as duas realidades durante o ano todo. Basta dar uma olhada nos resultados das avaliações feitas nas escolas públicas para descobrir que continuamos lidando com os mesmos problemas de sempre: alunos não alfabetizados ao final do Ensino Fundamental; desempenho medíocre em matemática; incapacidade de ler e interpretar textos simples.
   Também não é novidade que as políticas públicas no Brasil têm uma vocação para o fracasso, porque não há compromisso verdadeiro com a educação. Podem até tentar, como no caso do Pacto Nacional Pela Alfabetização na Idade Certa, mas falta coerência e persistência para fazer a coisa funcionar. Exemplo disso é que num momento se quer alfabetizar ao final do terceiro ano, depois ao final do segundo,  e assim por diante.
   Na minha opinião, o que mais prejudica a aprendizagem dos alunos de escola pública é a falta de investimento e estrutura ( física e de recursos humanos), adequados. Nos anos iniciais, um professor acumula todas as funções, ensina todas as disciplinas, independentemente  de sua área de formação. Assim, alguém formado em Educação Física pode estar alfabetizando crianças, sem ter o mínimo de conhecimento sobre isso.  Então vem o governo federal e institui o Programa Mais Alfabetização, para colocar professores monitores no auxílio aos educadores dos primeiros e segundos anos.  A estratégia, no que diz respeito aos professores estaduais gaúchos, dificilmente será implantada, pois eles ganham um adicional de unidocência, por serem professores únicos em suas turmas. Com outro profissional em sala de aula ajudando, o professor perde a unidocência, o salário diminui. Algo preocupante para quem já ganha muito mal. Também precisamos lembrar que os setores nas escolas públicas em geral estão prejudicados: faltam bibliotecas com bom acervo e bibliotecários capacitados; as salas de informática são obsoletas, com equipamentos ultrapassados e internet lenta; há escolas que sequer contam com coordenador pedagógico.
   Quando pensamos no ensino privado, a realidade é outra. Há professores específicos e formados nas disciplinas de Inglês  e Educação Física, boas bibliotecas que funcionam, salas de informática utilizáveis, pessoal de apoio suficiente para o bom andamento da rotina escolar. Há problemas, é claro. No caso da escola em que meus filhos estudam, considero exagerada a preocupação com notas e provas e o conteúdo é excessivo; o currículo poderia ser mais enxuto. Tudo tendo em vista o vestibular. Mas as crianças aprendem. Como aprenderiam também as crianças das escolas públicas, se a legislação fosse cumprida e o que está no papel fosse concretizado.
  Apesar de tudo, tenho esperança que um dia esse abismo diminua e eu possa escrever textos bem diferentes desse.
 Seguem alguns links com mais informações que ilustram algumas situações levantadas pelo texto:

http://educacao.estadao.com.br/noticias/geral,70-dos-alunos-de-15-anos-nao-sabem-o-basico-de-matematica,10000092785
http://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2017-01/matematica-apenas-73-aprendem-o-adequado-na-escola
https://www.revistaencontro.com.br/canal/atualidades/2017/10/maioria-dos-alunos-do-3-ano-do-ensino-fundamental-nao-sabem-ler-ou-ca.html
http://www.cartaeducacao.com.br/reportagens/argumentacao-%E2%80%A8ou-reproducao/
https://novaescola.org.br/conteudo/7096/a-alfabetizacao-no-brasil-nao-avanca-sera-que-o-pnaic-falhou
http://www.brasil.gov.br/educacao/2018/01/escolas-e-municipios-ja-podem-aderir-ao-programa-mais-alfabetizacao

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