Em
recente entrevista a uma rádio local, o deputado Osmar Terra (MDB-RS) deu um
show de desinformação a respeito do uso medicinal da Cannabis, mais conhecida
como maconha. Em sua fala, o político colocou-se veementemente contra a
aprovação do substitutivo do Projeto de Lei 399/2015, do deputado Paulo
Teixeira (PT-SP), que prevê o aumento da oferta das medicações produzidas a
partir de princípios ativos da planta. Enaltecendo a política (fracassada) de
guerra às drogas, Osmar Terra conclama seus seguidores e a população em geral a
se manifestarem contra tal legislação.
Trago
aqui algumas reflexões baseadas nos estudos de dois grandes pesquisadores da
área. O primeiro deles, o neurocientista Sidarta Ribeiro, PhD pela Universidade
de Duke (EUA) e diretor do Instituto do Cérebro da UFRN, afirma que a maconha,
ao contrário do que Terra propaga, contém substâncias anti-inflamatórias,
que estimulam o crescimento dos ossos, antiepiléticas e antibacterianas. Por isso,
várias doenças são tratáveis com maconha: autismo, carcinoma, distonia, dor
crônica, depressão, encefalopatia, epilepsia, esclerose, esquizofrenia,
fibromialgia, paralisia cerebral, Parkinson, retardo mental... Muitas pessoas,
portadoras destas doenças, seriam beneficiadas, caso o projeto fosse aprovado. Os
medicamentos à base de cannabis são importados, caríssimos, chegando a custar
R$ 2.500,00 a dose.
Mas
Osmar imagina que tal aprovação fará com que em cada família se instale o vício
das drogas, e que os jovens se tornem zumbis puxadores de fumo, que têm seus
cérebros destruídos pelo cigarro do capeta (outra ideia errônea, a de que a
maconha destrói neurônios. O professor
Sidarta afirma que “a ciência por muito tempo serviu à proibição.
E era uma má ciência, financiada para provar mentiras. Isso nos anos sessenta, maconha
mata neurônios. Que mentira! Maconha promove novos neurônios e promove novas
sinapses”). Ou seja, muitos anos se passaram, estudos e pesquisas foram feitos,
mas a população em geral continua à mercê de políticos que propagam falsas
ideias a respeito do tema.
Isto nos leva a outro estudioso do tema: Carl Hart, neurocientista
norte-americano, professor da Universidade de Columbia e autor do livro “Um
preço muito alto”. Para ele, é necessário acabar com a desinformação a respeito
das drogas, combatendo falsas premissas.
Em suas palavras: “Não deveríamos prender pessoas. É preciso manter os usuários e
dependentes fora da prisão, onde há outros problemas e doenças. Deveríamos
multá-las ou dar um alerta. Não deveríamos fazer uma guerra contra drogas
porque não há uma guerra contra dirigir carros. Precisamos mudar nossa
abordagem se queremos aumentar a segurança de nossa sociedade.”
O
autor é um crítico ferrenho da política de guerra às drogas, exaltada pelo
deputado Osmar. Para entender o posicionamento dele, pense nas últimas notícias
que você viu sobre combate às drogas no seu município: quase sempre, prisão de
pequenos traficantes, com quantidades insignificantes de entorpecentes...Dificilmente
a polícia consegue prender os grandes traficantes, que operam os esquemas- e,
quando consegue, eles continuam fazendo o seu “trabalho” de dentro das prisões.
Ficam as forças policiais enxugando gelo, quando o foco principal do combate às
drogas deveria ser outro- uma questão de saúde pública.
Se
olharmos para as estatísticas, veremos que a droga que mais impacta na saúde e aumenta
os índices de violência é legalizada e socialmente aceita, tendo seu consumo
estimulado amplamente pela mídia: o álcool. E ninguém está pensando em reavivar
uma lei seca, até porque a indústria das bebidas alcoólicas é extremamente
lucrativa. Ah, e se você costuma tomar aquele tranquilizante antes de dormir,
saiba que está usando uma droga. É
preciso conhecer a história das drogas e por que algumas se tornaram legais,
enquanto outras são vistas pelos deputados conservadores como se fossem a
encarnação do diabo na Terra. É tudo uma questão de estudo, informação, esclarecimento.
Finalizo com as palavras de Carl:
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