A cultura brasileira é rica
e diversificada. Há pessoas que afirmam ser o Brasil um país formado de muitos
países, pois, além da nossa terra ser grande em tamanho, comporta ainda
inúmeras manifestações artísticas, formas de viver e de falar. Infelizmente,
nas últimas décadas, podemos notar que têm crescido a cultura vulgarizada, de
baixa qualidade, artificial e altamente comercial.
Tomemos o exemplo da música
popular brasileira. Tivemos a MPB e a Bossa Nova, no passado. Agora nossos
ouvidos são torturados com “criações” do tipo “Florentina de Jesus”, “Festa no Apê”
e o mais recente sucesso “Quadradinho de oito”.
São músicas comerciais e que fazem sucesso instantâneo, principalmente
entre as crianças e jovens. Ao analisarmos as letras dessas músicas, notaremos
que são de mau gosto, vulgarizam a figura feminina, utilizam uma linguagem
chula, sem ter nenhum propósito ou significado útil.
Há também o exemplo das novelas.
As telenovelas produzidas no Brasil são produções caras, cuidadosamente
elaboradas e mundialmente conhecidas. Fazem parte da nossa cultura, das conversas
do cotidiano e influenciam a vida dos brasileiros. Não é à toa que muitas
marcas famosas usam as novelas para fazer merchandising, pois elas constituem
uma enorme vitrine para os produtos e estimulam o consumismo. Porém, se
analisarmos o conteúdo das mesmas, veremos o quanto as histórias podem ser
vazias e inconsistentes. Muitas reforçam estereótipos, como no caso dos
homossexuais, dos negros e dos pobres. Apenas recentemente podemos notar a
presença de atores negros em papéis importantes; no passado, eles participavam
apenas dos núcleos dos personagens pobres, ou ainda, figuravam como escravos
nas novelas de época. Os índios também aparecem em personagens caricatos e
artificiais. Além do mais, as novelas em geral estimulam o culto à vaidade e à
beleza, com atrizes lindas, magras e perfeitas.
Nossos alunos estão expostos
a essa mídia diariamente e consequentemente aos valores nela implícitos. Nos
últimos anos, tenho presenciado crianças e jovens que, questionados sobre seu
futuro, afirmam que desejam ser modelo, atriz, cantor, jogador de futebol...
O papel da escola é ajudar
as crianças e jovens para que se conscientizem a respeito daquilo que escutam
no rádio e do que assistem na TV. Será
que eles imaginam que tudo ali é cuidadosamente pensado e tem como maior objetivo o lucro?
Como professores, precisamos
respeitar os gostos e preferências das crianças. Mas, ao ouvir um aluno
cantarolar um refrão do tipo “Eu quero tchu” podemos questionar: quem fez essa
música e por quê? O que está contido na letra dessa canção? Qual a mensagem que
ela passa? Podemos partir dessa cultura vulgar, utilizá-la para mostrar aos
alunos que estamos atentos aos seus interesses, mas que é necessário refletir
sobre as palavras que estão cantando.
Da mesma forma, as novelas
proporcionam temas para muitas e variadas aulas. Podemos, nessa perspectiva, questionar o que elas
mostram, o que valorizam, os conceitos e preconceitos embutidos em cada
capítulo.
Não precisamos parar no
questionamento e na reflexão. Devemos oferecer aos nossos alunos o contato com
outros tipos de músicas e de expressões culturais. Será que algum dia eles
tiveram a oportunidade de ouvir música clássica? Imaginam eles que um dia
existiu Mozart, ou Bethoveen? Ou ainda, conhecem a boa e diversificada música
brasileira? Como exemplo, as músicas “Que país é esse”, “Perfeição” e “A canção
do Senhor da Guerra” do grupo Legião Urbana, poderiam originar aulas
interessantes e pertinentes ao contexto atual, não só do Brasil, mas do mundo.
É tarefa da escola e do
professor abordar essa realidade, questionar os alunos nesse sentido e utilizar
boas referências culturais para tentar, aos poucos, conscientizá-los de que
existe um mundo bem melhor, mais significativo e interessante, que não está nas
novelas e nem nos “sucessos musicais
instantâneos” alardeados pelos meios de comunicação de massa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário