quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Dia do Professor (ou da depressão!)

                Este ano não ganhei nada no Dia do Professor. Fato inédito em treze anos de profissão.Nenhum cartãozinho com corações e letras coloridas. Nenhuma florzinha colhida sem haste no caminho de casa até a escola. Nenhum anjinho do R$1,99. Uma decepção.
             Mas, como desgraça pouca é bobagem, ao chegar em casa li o artigo do colunista Gustavo Ioschpe, da Revista Veja, assim entitulado: - "Seu valor é determinado por seu salário?". Ioschpe é um economista que adora escrever sobre a péssima qualidade da escola pública brasileira. E a Revista Veja me parece uma defensora ferrenha da meritocracia - aquele sistema no qual cada profissional recebe de acordo com sua eficiência ou produtividade no trabalho. No referido artigo, o colunista afirma que "o professor brasileiro ganha demais em relação ao que entrega". Ou ainda: "Não há correlação entre o salário dos professores e o aprendizado dos alunos".
               Para pensar um pouco, quero dar minha contribuição, a visão de uma professora de escola pública. Eu acredito que meu salário é inferior ao que realmente mereço. Justifico: planejo e organizo detalhadamente minhas aulas, geralmente no período da noite e nos finais de semana (não ganho um centavo pelo trabalho extra). Estando numa escola pública com poucos recursos e dando aulas para crianças carentes (em sua maioria), ao menos uma vez por semana sou obrigada a ir até a papelaria e gastar alguns reais, do meu diminuto salário, com materiais diversos (papel colorido, tinta, massa de modelar, argila, giz de cera, isopor, etc). Estou constantemente lendo, pesquisando e buscando aperfeiçoamento profissional.
               Porém, há o outro lado. Conheço muitos professores que realmente ganham demais pelo que fazem. Esses são relapsos, irresponsáveis, não planejam aulas, não refletem sobre sua prática. E o pior, muitos deles não leem o suficiente e não gostam de aprender. Sim, pois o professor que não gosta de aprender, no meu entendimento, é incapaz de ensinar bem.
             Invariavelmente, ao final de cada mês, todos os professores, "bons" ou "ruins", eficientes ou ineficientes, receberão o mesmo salário. Visto assim, é claramente uma situação injusta.
               No entanto, caso a meritocracia fosse adotada no sistema educacional brasileiro, creio que os professores seriam avaliados tendo como critério básico a aprendizagem (ou não-aprendizagem) de seus alunos.Mas temos que levar em consideração que a aprendizagem não depende exclusivamente do desempenho do professor. Existem muitos outros fatores que influenciam o processo. Penso que, antes de adotar a tal meritocracia, faz-se necessário um amplo e sério debate que esclareça como tal sistema funcionaria.
               E, apesar da desvalorização que venho sofrendo dia a dia como professora, apesar do Dia do Professor sem carinho nem reconhecimento, mesmo que economistas venham afirmar que recebo mais do que mereço, vou continuar sendo uma profissional dedicada e responsável. Não tenho medo nenhum de ser avaliada pelo trabalho que desenvolvo. Meu valor não é determinado pelo meu salário.

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