Tenho imenso respeito pela cultura indígena. Não concordo com comentários preconceituosos do tipo "índio é preguiçoso, não gosta de trabalhar, só bebe cachaça..."
Aqui no sul costumamos nomear os descendentes de indígenas de bugres. É normal encontrá-los nas
esquinas vendendo cestos artesanais de palha. Essa semana uma índia bateu a nossa porta oferecendo desses artigos. Prontamente tratei de comprar um cesto, aproveitando para explicar aos meus filhos que aquele não era um simples objeto artesanal, mas sim o produto de uma cultura que corre o risco de desaparecer. A índia pediu um prato de comida e meus meninos ficaram comovidos.
Nesses mesmos dias meu caçula surpreendeu-me com a pérola: "público é aquilo que a gente ganha de graça e não é bom e privado a gente paga e é bom". Tal reflexão, vinda de uma mente ao mesmo tempo tão infantil e tão esperta, não pode passar despercebida. Meus filhos estudam em escola privada, tem acesso à internet, aos melhores livros e revistas... Recordei de uma situação recente, na qual contava aos meus alunos, de escola pública, residentes da periferia da cidade, alguns deles analfabetos no quarto do ensino fundamental ( e que nem cogitam sobre diferenças entre público e privado), sobre uma simples ida ao cinema. A conversa foi mais ou menos assim:
- Professora, você foi ao cinema?
- Sim, fui, levei meus filhos...
- Mas você entrou no cinema?
- Sim, entramos, assistimos ao filme...
Os alunos ficaram abismados. Nenhum deles jamais assistira a um filme no cinema.
Veja bem, o que impressiona nessa história não é o fato de que essas crianças jamais tenham ido ao cinema; o que espanta é que considerem essa possibilidade como alguma coisa de outro mundo...
Assim como, numa manhã de segunda-feira, meus filhos, privilegiados, alunos de escola privada, que já foram diversas vezes ao cinema, espantaram-se ao ver uma humilde descendente indígena, descalça e faminta, vendendo cestos de porta em porta...
Esse é o nosso Brasil, Brasil sem igual, país desigual... Até quando?
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