sábado, 16 de maio de 2015

Eternos dilemas de uma carroça chamada escola



           Um aluno, um lápis, um caderno e uma árdua missão: aprender a escrever com letra cursiva. Chegando ao 3º ano do Ensino Fundamental escrevendo apenas com letra caixa alta, o menino luta para aprender o traçado mais elaborado, que os colegas estão habituados a utilizar. Esse aluno, além da dificuldade e lentidão para escrever, ou melhor, copiar, é canhoto, num mundo que, sabemos, foi pensado por e feito para destros. A escrita cursiva vem sendo, aos poucos, “ameaçada” pelo mundo virtual. Há os que alegam que é pura perda de tempo ensiná-la; alguns países já aboliram seu ensino. E há também estudos dizendo que a mesma favorece a aprendizagem e principalmente a memória. Polêmicas à parte, quando me deparo com situações como essa em sala de aula, não posso deixar de questionar: até que ponto é válido adotar uma prática que, ao invés de favorecer a aprendizagem, acaba prejudicando a mesma?     
           Esse é um exemplo representativo de inúmeros dilemas enfrentados nas escolas brasileiras, dilemas esses que às vezes parecem eternos. Outro exemplo: há dias contemplo, no mural do fundo da minha sala, na qual outra turma estuda no turno da manhã, uma fórmula matemática que envolve raiz quadrada e potenciação. Fito aqueles símbolos como se fossem hieróglifos egípcios, vasculhando os escaninhos da memória para descobrir o que significam. Porque com certeza, há quase trinta anos atrás, deveria eu estar sentada numa sala de aula “aprendendo” fórmulas desse tipo.
            O que pretendo ilustrar com essas histórias é a realidade do Brasil em geral. No papel, temos leis incríveis, politicamente corretas, que falam de inclusão, diversidade, interdisciplinaridade, promoção da cidadania; na prática, temos nossas escolas, que são como uma carroça lenta, pesada, atrasada e ultrapassada. É difícil avançar muito com uma carroça. Lembro da reforma curricular ensaiada pelo MEC e penso que a mesma é crucial para a melhoria do ensino público no Brasil; no entanto, serão as modificações realizadas implantadas efetivamente nas salas de aula do país, ou ficaremos somente no papel?
           Retornando ao menino da letra cursiva: imagino o que a escola significa em sua vida. Será que o espaço escolar está sendo para essa criança um lugar de descoberta, curiosidade e aprendizagem? Receio que não. Não queremos uma escola que respeite as diferenças individuais, que considere as múltiplas formas de aprender?  Qual a relevância daquilo que ensinamos?  É esse tipo de questionamento que precisamos ter em mente: o que nossas crianças e jovens precisam aprender, mas, também, o que eles querem aprender? Ou acordamos ou seremos a eterna carroça, lenta e pesada, com seus eternos dilemas, tendo à frente alunos na velocidade do trem bala.

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