Um aluno, um lápis, um caderno e uma árdua missão: aprender a
escrever com letra cursiva. Chegando ao 3º ano do Ensino Fundamental escrevendo
apenas com letra caixa alta, o menino luta para aprender o traçado mais
elaborado, que os colegas estão habituados a utilizar. Esse aluno, além da
dificuldade e lentidão para escrever, ou melhor, copiar, é canhoto, num mundo
que, sabemos, foi pensado por e feito para destros. A escrita cursiva vem
sendo, aos poucos, “ameaçada” pelo mundo virtual. Há os que alegam que é pura
perda de tempo ensiná-la; alguns países já aboliram seu ensino. E há também
estudos dizendo que a mesma favorece a aprendizagem e principalmente a memória.
Polêmicas à parte, quando me deparo com situações como essa em sala de aula,
não posso deixar de questionar: até que ponto é válido adotar uma prática que,
ao invés de favorecer a aprendizagem, acaba prejudicando a mesma?
Esse é um
exemplo representativo de inúmeros dilemas enfrentados nas escolas brasileiras,
dilemas esses que às vezes parecem eternos. Outro exemplo: há dias contemplo,
no mural do fundo da minha sala, na qual outra turma estuda no turno da manhã,
uma fórmula matemática que envolve raiz quadrada e potenciação. Fito aqueles
símbolos como se fossem hieróglifos egípcios, vasculhando os escaninhos da
memória para descobrir o que significam. Porque com certeza, há quase trinta
anos atrás, deveria eu estar sentada numa sala de aula “aprendendo” fórmulas
desse tipo.
O que
pretendo ilustrar com essas histórias é a realidade do Brasil em geral. No
papel, temos leis incríveis, politicamente corretas, que falam de inclusão,
diversidade, interdisciplinaridade, promoção da cidadania; na prática, temos
nossas escolas, que são como uma carroça lenta, pesada, atrasada e ultrapassada.
É difícil avançar muito com uma carroça. Lembro da reforma curricular ensaiada
pelo MEC e penso que a mesma é crucial para a melhoria do ensino público no
Brasil; no entanto, serão as modificações realizadas implantadas efetivamente
nas salas de aula do país, ou ficaremos somente no papel?
Retornando
ao menino da letra cursiva: imagino o que a escola significa em sua vida. Será
que o espaço escolar está sendo para essa criança um lugar de descoberta,
curiosidade e aprendizagem? Receio que não. Não queremos uma escola que
respeite as diferenças individuais, que considere as múltiplas formas de
aprender? Qual a relevância daquilo que
ensinamos? É esse tipo de questionamento
que precisamos ter em mente: o que nossas crianças e jovens precisam aprender,
mas, também, o que eles querem aprender? Ou acordamos ou seremos a eterna
carroça, lenta e pesada, com seus eternos dilemas, tendo à frente alunos na
velocidade do trem bala.
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