Escola A – A professora passa no
quadro a definição de bilhete (tipo de texto) para que os alunos copiem. Alguém
bate à porta. É a coordenadora da escola que distribui avisos aos pais dos
alunos sobre determinada reunião. Os alunos começam a ler e a questionar a
professora sobre o bilhete distribuído. “Quem tem que vir profe?”; “Quando é a
reunião?”; “Não tem aula amanhã profe?”. A professora, irritada com a
interrupção da aula, pede que todos guardem os papéis e esclareçam suas dúvidas
em casa, lendo o aviso com os pais, e continuem copiando a definição do que é um bilhete.
Escola B – Os alunos, após
resolverem várias adições em seus cadernos, recebem outra tarefa. A professora
distribui cédulas de reais de brinquedo para cada um e pede que anotem no
caderno a quantia total. Vendo que muitos alunos não sabiam, a professora
explica: “Uma nota de 50 reais, mais uma nota de 20 reais, mais duas notas de
10 reais”. Coloca o cálculo no quadro, mostrando como resolver. Alguns alunos
perguntam: “Mas então é a mesma coisa que estávamos fazendo antes?” Perplexa, a
professora percebe o quanto aqueles cálculos isolados, desvinculados de uma
situação real, eram sem significado para seus alunos, e decide dali em diante
trabalhar a Matemática através de situações reais, do dia-a-dia das crianças.
Qual a principal diferença entre
a professora da escola A e a professora da escola B?
A professora da escola A não
percebeu que, durante a leitura dos avisos (que constituem um tipo de bilhete),
poderia ter aproveitado a situação para explorar o texto real que era distribuído
aos seus alunos. Essa situação é um exemplo de como o saber escolar pode
apresentar-se totalmente desvinculado do saber da vida.
Já a professora da escola B
relacionou os dois saberes (cálculos isolados, sem ligação com situações cotidianas,
e o cálculo feito para somar o dinheiro) e percebeu que, ao fazer isso, a
matemática tornou-se significativa para seus alunos.
Deixo que Paulo Freire responda
sobre a diferença entre as duas professoras:
"Crescer como profissional significa
ir localizando- se no tempo e nas circunstâncias em que vivemos, para chegarmos
a ser um ser verdadeiramente capaz de criar e transformar a realidade em
conjunto com os nossos semelhantes para o alcance de nossos objetivos como
profissionais da Educação".
(Paulo Freire)
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