Em 2017, o Rio Grande do Sul terá
uma safra de soja que deverá bater recordes de produtividade: 30,8 milhões de
toneladas nas lavouras de verão, segundo dados da Emater. Dizem as notícias que
isso se deve, em parte, ao aumento na área plantada. Essa constatação me fez
lembrar de quando era criança e íamos passar os finais de semana na beira dos
rios de nosso município. Há trinta anos,
a criação de gado ainda era a atividade econômica mais forte por essas bandas.
Havia muitos campos e matas ciliares, que ajudavam a preservar os rios,
impedindo a erosão e conservando a vida
dos peixes. Pois bem, voltando para um desses locais, agora em 2017, percebi
que tudo está mudado. Há mares de soja que parecem não ter fim no lugar onde
antes as vacas pastavam. Muitas árvores foram retiradas para dar lugar às
plantações. Há uma lei que estabelece a "área de preservação
permanente", com diversas funções ambientais, devendo respeitar uma
extensão específica de acordo com a largura dos rios, córregos, lagos, represas
e nascentes(Código Florestal - Lei 4.771/65 Áreas de preservação permanente -
artigo 2). Não sei se os produtores da região observam essa lei, mas o rio da
minha infância, que tinha no fundo apenas pedrinhas e onde corria uma água
limpa e cristalina, está agora turvo e com o fundo cheio de lodo. Fico pensando
qual o prejuízo causado ao meio ambiente devido a essa safra recorde de soja. O
aumento da área plantada acontece observando a legislação vigente? Estariam os
rios sofrendo com o assoreamento e contaminação pelos agrotóxicos, ao mesmo
tempo em que os silos ficam entupidos de grãos e os bilhões arrecadados animam
a economia?
E, já que estou falando de leis, há uma delas que tem causado certo
rebuliço em nossa cidade. Trata-se da Portaria SES-RS Nº 66 DE 26/01/2017, que regulamenta o funcionamento de
estabelecimentos comerciais dos segmentos açougue e fiambreria. Entre as
diversas normas expressas está a exigência de que açougues que armazenam, beneficiam, fracionam e vendem a
carne de animais disponham de ambientes climatizados, com controle de
temperatura. Essas medidas visam a evitar doenças, contaminações, e também a
manter o mínimo de higiene na manipulação dos alimentos. Ou seja, o objetivo é
garantir que ninguém ficará doente por comer algo estragado, mal embalado ou
contaminado. De um lado, temos os
comerciantes, preocupados com os custos que terão ao se adequarem às normas.
Inclusive, alguns buscaram apoio no setor político, vejam bem, apoio para que
essas normas não sejam aplicadas. Do outro lado, temos os fiscais da Vigilância
Sanitária, os responsáveis pela fiscalização dos estabelecimentos em questão.
Como a corda sempre arrebenta do lado mais fraco, são os fiscais que correm o risco
de serem processados por estarem, vejam só, apenas
cumprindo a lei e fazendo seu trabalho.
Eu realmente não acredito que estou
escrevendo isso. Festejamos os bilhões da agricultura e esquecemos da
água dos rios que nos abastecem, sem a qual não vivemos. Isso é ganância. Protestamos para nos adequar à
determinada lei, porque a consideramos injusta, desnecessária ou simplesmente
porque queremos evitar custos adicionais. Mesmo que isso seja para o bem
coletivo. Isso é falta de princípios.
Para você que imagina que a ganância e a falta de princípios são
privilégios do pessoal lá de Brasília, envolvido em escândalos de corrupção, eu
digo que essas são mazelas que contaminam todos os setores da nossa sociedade.
Infelizmente.