Vossa Excelência...
Sou professora nomeada da rede
estadual de ensino há dezoito anos. Pedagoga, formada pela UPF. Amo minha
profissão e sinto-me realizada quando estou em sala de aula com meus alunos.
Adoro planejar aulas e faço isso, invariavelmente, aos finais de semana.
Organizo projetos a partir das necessidades e interesses das crianças, usando
muitas horas de "folga" para ler e pesquisar sobre assuntos
relacionados aos referidos projetos. Não recebo nem um centavo por essas horas
trabalhadas em casa. Frequentemente compro, com o dinheiro do meu salário,
materiais que necessito para aulas de Arte e que não existem na escola. Também
adquiro livros de literatura infantil que considero importantes e instigantes
para meus alunos, usando para tanto meu vencimento mensal. Faço isso porque
acredito na importância do meu ofício e sinto-me feliz realizando um trabalho
de qualidade, que, creio eu, resulta em aprendizagens significativas para meus alunos. Sou uma leitora ávida, sempre buscando
novos conhecimentos, e também escrevo, tendo publicado quatro livros, dois deles
relacionados à educação. Além disso, em 2015 conquistei um prêmio para educadores
de relevância nacional. Apesar de todos os resultados e empenho, nunca fui
promovida. Mas tudo bem. A desvalorização do professor não é mérito apenas seu,
mas de uma classe política mais interessada em encher malas de dinheiro do que
no progresso do país e instrução de um povo. Agora, ao entender o direito que
tenho de receber meu mísero salário em dia, que não chega a dois salários
mínimos,como sendo DEMAGOGIA, o senhor
fere profundamente minha dignidade enquanto pessoa. Afinal, a dignidade
enquanto professora está corroída pelo seu desrespeito, pela sua prepotência e
insensibilidade.
Confesso que, nas últimas
eleições, cogitei votar em Vossa Excelência para o cargo que agora exerce. Sabe
por quê? Porque li numa reportagem que o senhor era professor, e imaginei que
teria condições de fazer um bom governo, preocupado com a educação e com nossa
classe. Mas, após uma análise mais acurada, percebi que era um engodo, uma
falácia, um homem despreparado e com um senso de humor brega e ridículo,
mandando os professores procurarem "piso no Tumelero". Não votei no
senhor. Estou sofrendo e muitos outros professores e funcionários públicos
sofrem. Mas vai passar. O senhor será apenas mais uma página virada na história
do Rio Grande do Sul, um governante que deixará marcas profundas na dignidade e
na alma de um povo. Mas nós sobreviveremos. Apesar de você, amanhã há de ser
outro dia!
Alessandra Bremm
Alessandra Bremm