Está em exibição, na plataforma de streaming Netflix,
o filme “O menino que descobriu o vento”, inspirado na vida real de William
Kambkwamba, que nasceu numa vila de camponeses no Malaui. Nesse lugar, a fome
causada pela seca resultou em grandes transtornos para a população. William,
observando o dínamo que fazia o farol da bicicleta de seu professor acender,
teve sua curiosidade despertada. Pesquisando escondido na biblioteca da escola (que
não podia mais frequentar, pois seus pais não conseguiam pagar as mensalidades),
criou um sistema, usando sucatas, para bombear a água e até mesmo gerar
eletricidade. Dessa forma, a comunidade pode se beneficiar do invento e vencer
a fome e a seca.
Essa história lembra a vida de outra pessoa que
conseguiu, através do estudo e do conhecimento, transformar a realidade de um
povoado no Quênia: Wangari Maathai teve um destino diferente de outras meninas
de sua geração. Ela pode estudar desde
cedo, aprendeu inglês e ingressou num programa para estudantes africanos,
graduando-se em Biologia no Kansas. Mais tarde, fez mestrado e doutorado na
área. Regressou para o lugar onde nasceu e cresceu vendo as árvores sendo
derrubadas para o surgimento de lavouras comerciais, o que acabava por destruir
a biodiversidade local e influenciar no clima local, favorecendo as secas, e fundou
o Movimento Cinturão Verde. Esse trabalho consistia numa campanha de reeducação
ambiental voltada para as mulheres, com plantio de árvores que rendia empregos,
comida, combustível e melhoria do solo. Por esse feito, Wangari recebeu um
Nobel da Paz, em 2004. Quando faleceu, em 2011, havia mais de 47
milhões de árvores plantadas graças a sua iniciativa. Há um livro incrível,
para o público infantil, que fala sobre essa mulher, com o título “Plantando as
árvores do Quênia”.
A vida e a trajetória dessas duas pessoas têm muitas
coisas em comum, mas a principal delas é o papel que o estudo e conhecimento
representaram, não somente em suas vidas, mas nas vidas de muitas outras
pessoas, transformando a realidade de comunidades inteiras. É preocupante
constatar que há um movimento contrário a ele, que se baseia em teorias da
conspiração e que refuta cientistas, historiadores, pesquisadores e estudiosos
renomados, preferindo aderir a ideias como a da “Terra Plana”. Há os que
acreditam que vacinas não protegem das doenças e sim causam autismo e outros
efeitos colaterais jamais comprovados. Outros duvidam de Darwin e Newton.
Ideias errôneas, baseadas em estudos falsos e superficiais surgem a todo
momento, potencializadas e disseminadas para milhões de pessoas através da
internet. Para agravar a situação, aqui no Brasil, professores e escolas são
colocados na berlinda, apontados como vilões, como se estivessem trabalhando
para doutrinar a população e implantar o “marxismo cultural” e a “ideologia de
gênero”. Se William ou Wangari não acreditassem nos seus professores, se não
lessem bons livros de autores sérios, e fossem terraplanistas, jamais teriam
tido ideias e atitudes tão geniais e importantes.
Quando não
valorizamos o conhecimento historicamente produzido e reconhecido pela
humanidade, todos perdemos. Colocamos nossa própria existência em risco. Porque
o conhecimento transforma. O conhecimento salva. O conhecimento liberta.
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