sábado, 6 de julho de 2019

As pautas inteligentes avançam em Lagoa



   Recentemente os vereadores de Lagoa Vermelha aprovaram uma lei que proíbe a utilização de nomes de pessoas que constam no Relatório Final da Comissão da Verdade como responsáveis por violação de direitos humanos durante o regime militar que se iniciou em 1964 em ruas, prédios e repartições públicas.

    Em uma sociedade realmente civilizada e humanista, seriam desnecessárias leis impedindo a homenagem, sobre qualquer forma, a torturadores e assassinos. No entanto, considerando-se o revisionismo histórico pelo qual o Brasil vem passando, algumas pessoas considerariam natural que se colocasse numa escola, rua ou parque o nome “Carlos Alberto Brilhante Ustra”. Afinal, esse é o autor do livro de cabeceira do presidente Jair Bolsonaro e seu rosto é estampa preferida pelos seus filhos, que exibem orgulhosamente camisetas com o rosto do torturador.

   Nesse contexto, é louvável que os vereadores de Lagoa se inspirem nas recomendações da Comissão Nacional da Verdade, que buscou investigar, relatar e resgatar as histórias de pessoas que foram mortas pelo regime militar no Brasil. Muitas dessas histórias não têm um desfecho, pois são inúmeros os casos de desaparecidos políticos, de famílias que ainda buscam um ponto final para o sofrimento imposto pelo governo durante a ditadura. Mais do que uma narrativa, essa Comissão foi muito importante por registrar, através de relatórios baseados em pesquisas e dados, uma fase obscura de nossa história. Como bem se sabe, o Brasil foi o único país na América do Sul que não puniu os crimes cometidos por militares durante a ditadura. Nem mesmo os investigou. No Chile, Argentina e Uruguai a Justiça passou a considerar que esses delitos são imprescritíveis, tendo como base tratados internacionais.

     É claro que sempre existem os dois lados da História, muitas são as narrativas e versões para os fatos. A guerrilha armada de esquerda surgiu como forma de luta contra o regime ditatorial, que não dava voz a ninguém que discordava dele. Há os que são a favor da luta armada, considerando personagens como Carlos Marihella um herói. Outros, acreditam que não seria necessário pegar em armas para lutar por liberdade. E há ainda aqueles que defendem as Forças Armadas a qualquer custo, como se perseguir, prender, torturar e matar civis não fosse crime ou nada sério, alegando o pretexto de “combater o comunismo”. Episódios como o atentado do Riocentro, que foi armado pelo próprio exército com o intuito de responsabilizar a esquerda guerrilheira pelo “terror”, desmistificam a aura de honestidade inquestionável da instituição na época.

     Sendo assim, diferenças políticas e ideológicas à parte, o ideal seria que assassinos e torturadores fossem vistos apenas como isso mesmo: assassinos e torturadores. Mas, como a realidade se impõe de forma diferente, é benéfico que nosso município aprove leis progressistas e em consonância com tratados internacionais. Quem sabe, logo mais, teremos mais leis e projetos politicamente inteligentes, como aqueles que promovem uma maior consciência ecológica, humanitária, levando-nos a evoluir como sociedade e beneficiando a toda a população.




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