Dezessete
silêncios
Eles estão
enfileirados, lado a lado, na sala de informática da escola. Há anos suas
cordas inertes não produzem música. Dezessete violões ociosos, testemunhas de
um silêncio que é um sintoma.
Foram comprados
na época em que um programa do governo, que tinha como objetivo ampliar o tempo
de permanência dos alunos na escola, era adotado em diversos lugares do país. O
Mais Educação, e também o Mais Cultura, foram oportunidades para os alunos de
realidades carentes almejarem novos rumos em suas vidas. Aprender a tocar um
instrumento musical era uma dessas oportunidades. Em tempos mais antigos ainda,
sem nenhum recurso extra do governo, nessa mesma escola, um lindo coral
encantava toda a comunidade, sob o olhar sensível e engajado de professoras
competentes e criativas.
O tempo
passou e o coral, sem apoio nem investimento, calou-se. O silêncio que ficou em
seu lugar junta-se ao silêncio dos violões sem músicos. Essa ausência de música
na escola é sintoma de uma era na qual a arte soa imprópria. Imagens podem
chocar e são censuradas, sejam elas pinturas numa exposição ou ilustrações num
livro. Alguns filmes têm suas exibições proibidas. Há quem julgue as formas de arte proibidas
como arte ruim ou não-arte. Olhares do obscurantismo que enxergam perversão em
tudo. Será que eles se incomodam com o silêncio dos violões?
Para quem tem
o mínimo de sensibilidade, esse silêncio é doloroso. Dói ao pensar nas mãos que
poderiam estar dedilhando canções, nas melodias que produziriam, na diferença
que isso pode fazer na vida de crianças e adolescentes. Machuca mais ainda
imaginar que os dezessete instrumentos permanecerão lá, intocados. Junto ao pó
que acumulam, milhares de oportunidades de vida e de transformação são desperdiçadas. Talvez jamais
sejam recuperadas.
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