sexta-feira, 21 de julho de 2017

Não é mimimi



        "Como isso foi acontecer?”
        Essa é uma das questões que vem à cabeça quando alguém comete suicídio. Por quê? E as razões podem ir muito além das treze, como no seriado que recentemente chamou a atenção de pais, professores e especialistas da área de saúde mental.
         Ontem, aos 41 anos, Chester Bennington, vocalista do Linkin Park, foi mais uma vítima. Enforcou-se no dia em que Chris Cornell, músico e seu amigo, faria aniversário. Nas redes sociais, as imagens e homenagens a Chris, ao longo do dia, foram mesclando-se às notícias, fotos e comentários de fãs chocados, tristes, incrédulos com a morte de outro músico talentoso e querido.
          E, é claro,em situações assim sempre aparecem aqueles que tentam explicar, colocar ordem, justificar: "falta de Deus", "espírito fraco", "covardia diante da vida".
         Isso me faz lembrar uma situação bem  complicada e profundamente triste que passei quando um dos meus filhos sofreu bullying na escola. Eu recordo de comentar sobre o fato entre colegas professores. Algum tempo mais tarde, depois que o drama havia passado, com tratamento psicológico e intervenção junto à escola, uma das professoras, minha colega, que sabia o que havia acontecido, e cujo filho era um dos meninos que excluía e ridicularizava o meu filho, comentou, olhando para mim, com escárnio:
" Agora tudo é traumático, tudo deixa a criança traumatizada. No meu tempo, eu era uma menina bem gordinha, na escola, e todo mundo me apelidava, dava risada de mim. E eu dava risada também, nunca me importei".

          Em outras palavras, ela queria dizer que a situação do meu filho não passava de mimimi. Até pensei em responder, falar sobre algo chamado depressão, que é uma doença que precisa ser tratada, e pode ser desencadeada por fatores como o bullyng. E que cada pessoa é única, tem sua identidade, personalidade e forma de lidar com as situações da vida.  Mas em certos momentos é melhor calar.
           Mas as estatísticas não se calam: elas falam por si mesmas. O Rio Grande do Sul é o estado brasileiro com o maior índice de suícidios. Vejam o que escreveu o jornalista Felipe Vieira em seu site:
"Em 17 anos, foram 19.295 pessoas mortas. É como se a população inteira de um município da serra gaúcha desaparecesse. São Francisco de Paula tem 20.224 habitantes. O DataSus (Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde) confirma: são 10,2 casos de suicídio a cada 100 mil habitantes. Este índice coloca o RS no topo do ranking nacional para mortes deste tipo. Em seguida vem Roraima, com 8,3 e Mato Grosso do Sul, com 8,1."
          
        Ninguém sabe quando alguém vai tirar a própria vida. Muitos suicidas dão sinais e mudam seu comportamento antes do ato, mas nem sempre. Não há padrões. No  entanto, sabe-se que a depressão está envolvida. Na verdade, aquele que comete o suicídio está, quase sempre, passando por um sofrimento intenso, com o qual não consegue lidar, do qual precisa fugir. O suicídio é o último estágio de uma doença chamada depressão. Não é mimimi.
          Para quem se interessa em saber mais sobre o assunto, tem algum familiar passando por isso, ou para os depressivos mesmo, fica a dica de leitura: O demônio do meio-dia, de Andrew Solomon. E também o vídeo de PC Siqueira, muito sincero e profundamente verdadeiro em seu depoimento.Porque problemas sérios precisam ser discutidos, e não rotulados como frescura, falta de fé ou mimimi.






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