"Como isso foi acontecer?”
Essa é uma das questões que vem à cabeça quando alguém comete
suicídio. Por quê? E as razões podem ir muito além das treze, como no seriado
que recentemente chamou a atenção de pais, professores e especialistas da área
de saúde mental.
Ontem, aos 41 anos, Chester Bennington, vocalista do Linkin
Park, foi mais uma vítima. Enforcou-se no dia em que Chris Cornell, músico e seu
amigo, faria aniversário. Nas redes sociais, as imagens e homenagens a Chris,
ao longo do dia, foram mesclando-se às notícias, fotos e comentários de fãs
chocados, tristes, incrédulos com a morte de outro músico talentoso e querido.
E, é claro,em situações assim sempre aparecem aqueles que
tentam explicar, colocar ordem, justificar: "falta de Deus",
"espírito fraco", "covardia diante da vida".
Isso me faz lembrar uma situação bem complicada e profundamente triste que passei
quando um dos meus filhos sofreu bullying na escola. Eu recordo de comentar sobre o fato entre colegas
professores. Algum tempo mais tarde, depois que o drama havia passado, com
tratamento psicológico e intervenção junto à escola, uma das professoras, minha
colega, que sabia o que havia acontecido, e cujo filho era um dos meninos que
excluía e ridicularizava o meu filho, comentou, olhando para mim, com escárnio:
"
Agora tudo é traumático, tudo deixa a criança traumatizada. No meu tempo, eu
era uma menina bem gordinha, na escola, e todo mundo me apelidava, dava risada
de mim. E eu dava risada também, nunca me importei".
Em
outras palavras, ela queria dizer que a situação do meu filho não passava de
mimimi. Até pensei em responder, falar sobre algo chamado depressão, que é uma
doença que precisa ser tratada, e pode ser desencadeada por fatores como o
bullyng. E que cada pessoa é única, tem sua identidade, personalidade e forma de lidar com as situações da vida. Mas em certos momentos é melhor calar.
Mas
as estatísticas não se calam: elas falam por si mesmas. O Rio Grande do Sul é o
estado brasileiro com o maior índice de suícidios. Vejam o que escreveu o
jornalista Felipe Vieira em seu site:
"Em 17 anos, foram 19.295 pessoas mortas. É
como se a população inteira de um município da serra gaúcha desaparecesse. São
Francisco de Paula tem 20.224 habitantes. O DataSus (Departamento de
Informática do Sistema Único de Saúde) confirma: são 10,2 casos de suicídio a
cada 100 mil habitantes. Este índice coloca o RS no topo do ranking nacional
para mortes deste tipo. Em seguida vem Roraima, com 8,3 e Mato Grosso do Sul,
com 8,1."
Ninguém sabe quando alguém vai tirar a própria vida. Muitos suicidas dão sinais e mudam seu comportamento antes do ato, mas nem sempre. Não há padrões. No entanto, sabe-se que a depressão está envolvida. Na verdade, aquele que comete o suicídio está, quase sempre, passando por um sofrimento intenso, com o qual não consegue lidar, do qual precisa fugir. O suicídio é o último estágio de uma doença chamada depressão. Não é mimimi.
Para quem se interessa em saber mais sobre o
assunto, tem algum familiar passando por isso, ou para os depressivos mesmo,
fica a dica de leitura: O demônio do meio-dia, de Andrew Solomon. E também o
vídeo de PC Siqueira, muito sincero e profundamente verdadeiro em seu
depoimento.Porque problemas sérios precisam ser discutidos, e não rotulados
como frescura, falta de fé ou mimimi.
Bem colocado os apontamentos... Parabéns!
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