Depois de um dia comum, trabalho na escola, em casa, compras no mercado, subindo as escadas para chegar ao apartamento, escuto um piado insistente vindo do sótão. Cansada, entro e sento-me uns instantes. O barulho persiste. Jantar quase pronto, os filhos pedindo isso e aquilo, até que não aguento mais e resolvo verificar que criatura é a causa do ruído tão estridente. Abro a porta do sótão (sim, no apartamento onde moro existe um) e vejo um pequeno pássaro, filhote, de olhos brilhantes, no escuro. Fita-me, amedrontado. "Vou ter que te tirar daí" - penso. Pego uma luva, dessas de forno, toda acolchoada, e parto para o resgate. Acomodo o bichinho na mão. Mas logo ele ensaia um voo breve e foge. Vai pra dentro de casa. As crianças acham lindo. Escolhiam até um nome pro dito cujo, por isso, rapidamente, digo que vou soltá-lo. Mas ele corre, com aquelas pernas desajeitadas, ainda maiores do que as asas, deixando pluminhas ralas pelo caminho.Insisto, ele se debate, voa mais um pouco, vai para a escada do prédio. Até que consigo levá-lo ao terreno dos fundos, onde há um pomar. Coloco-o no chão e logo aparece um casal de pássaros da mesma espécie (pardais, imagino). Ignorando o fato de que o pestinha emplumado poderia ser devorado por algum dos gatos que costumam zanzar por ali, prefiro acreditar que conseguiu voar até uma árvore suficientemente alta, sendo livrado do fim precoce. Ou que seus possíveis parentes o resgataram. Terminei o jantar sentindo uma felicidade inesperada. Afinal, nem sempre temos a oportunidade de dar uma chance a outra vida.
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