Escola pública:
agonia, morte e... Esperança?
A escola
pública brasileira agoniza há muito tempo. Situação conhecida de quase todos:
alunos desinteressados, professores desmotivados, políticas públicas ineficientes,
descaso, abandono, sucateamento... No ano passado, foi divulgada a
classificação do Brasil no último teste de PISA (Programme for
International Student Assessment - Programa Internacional de Avaliação de
Estudantes). Apesar de ter avançado
timidamente nos últimos anos, nosso país ficou em 55º lugar no ranking das
médias de leitura; em matemática, estamos em 58ª posição; em ciências, ocupamos
o 59º posto (num total de 65 países participantes). Ou seja, um fiasco total.
O governo, vendo a educação
brasileira na “UTI", toma suas medidas paliativas. Um exemplo delas: o Pacto
Nacional Pela Alfabetização na Idade Certa, maravilhosamente alardeado e
maquiado pelo marketing das propagandas. Esse ano vem aí sua versão para o
Ensino Médio. Acontece que paciente de UTI é complicado e nem sempre medidas
paliativas resolvem. Nesse cenário sofrem todos: os professores, os alunos e a
sociedade.
Resta constatar, assim como quando
temos um parente em estado terminal, sofrendo, não existindo mais alternativas
ou esperanças de recuperação: melhor morrer.
A escola pública precisa morrer,
ser sepultada, enterrada. Fim.
O modelo educacional adotado até
agora não vingou. Não é necessário recorrer a índices, estatísticas e testes
internacionais para concluir isso. A realidade está escancarada e evidente aos
que querem enxergá-la. No final de 2013 uma reportagem do jornal Zero Hora
demonstrou essa realidade, acompanhando o cotidiano de uma turma de Ensino
Médio na tradicional Escola Júlio de Castilhos – o Julinho. A repercussão da reportagem
provocou uma busca pelos "culpados" pela situação. Acontece que
quando o assunto é educação, todos têm um culpado para apontar, mas poucos têm
a disposição de refletir sobre o tema e buscar soluções coletivas.
Talvez se fôssemos uma cultura do
diálogo e não da radicalização, pudéssemos chegar a alguns pontos fundamentais
para que, aos poucos, surja uma nova escola pública no Brasil. Sendo a típica
brasileira que adora opinar sobre quase tudo ( creio que sobre esse assunto
tenho leituras e experiências suficientes para ousar opinar), sugiro algumas
ideias:
1 – Colocar o discurso bonito em
prática. Sabemos o que dá certo. Lemos Paulo Freire, Emilia Ferreiro, Telma
Weisz, Morin, Magda Soares e tantos outros. Caso conseguíssemos concretizar, em
nosso fazer pedagógico, metade do que sabemos, falamos, discursamos, já
estaríamos elevando o nível do ensino. Coerência, mais coerência. Não basta
constar no Projeto Político Pedagógico das escolas que almejamos formar
“cidadãos críticos e conscientes” se nossos alunos são analfabetos funcionais.
Aproximar o real do ideal. Difícil, mas não impossível.
2 – Professores comprometidos.
Posso cursar uma pós-graduação, participar de formações continuadas, assistir a
diversas palestras sobre educação, e, apesar disso, minha prática pode
continuar sendo deficiente, ou ineficiente, se não estou comprometida com o
processo de ensino-aprendizagem. Não estou falando de “vocação” ou “dom” para
ensinar, mas sim de profissionais conscientes de sua importância e engajados no
dia-a-dia da escola. No entanto, se a própria sociedade e os governos
desvalorizam o professor, fica difícil exigir comprometimento. Um dilema a ser
superado.
3– A escola como forma de
superação e aperfeiçoamento individual. Quem nunca se sentiu bem ao aprender
algo novo, quando superou uma grande dificuldade
ou limitação pessoal? Aquele que aprende sente-se capaz, valorizado, tem sua
autoestima elevada. Curiosidade, descoberta e pesquisa devem ser contrapontos à
inércia, passividade e reprodução características do ensino em geral. Uma escola
inovadora na qual os alunos sintam prazer de aprender (e não alívio quando
ouvem o sinal no horário da saída).
4- Conhecer, divulgar e adotar
práticas educacionais relevantes e eficientes. Apesar da crise quase
generalizada, há bons exemplos. A Fundação Victor Civita premia anualmente os
“10 melhores educadores” selecionados dentre milhares de participantes que
enviam seus projetos e práticas pedagógicas. Quem foram os dez ganhadores de
2013? Que trabalhos os professores premiados desenvolveram? Que características
seus projetos tinham? Esses projetos podem ser aplicados ou adaptados a outras
realidades? Não são apenas as crianças que aprendem através de exemplos, nós,
educadores, precisamos estar atentos às práticas de sucesso e que
comprovadamente resultam em aprendizagem.
5 – Mais eficiência na gestão e
aplicação de recursos. Quem está dentro
da escola pública sabe das dificuldades diárias: falta de bibliotecas, de
laboratórios de Ciências e Informática, alunos praticando Educação Física
debaixo de um sol escaldante, livros didáticos insuficientes... Quando se fala
em Plano Nacional de Educação (PNE, aprovado em 17 de dezembro de 2013) e suas
vinte metas, há que se atentar para problemas históricos que, caso não sejam
resolvidos, impedirão os avanços almejados. Porque planos, metas e objetivos
são concretizados quando existem condições favoráveis para tal. Sem falar que
nas transições de governos sempre se volta à estaca zero. Quando um novo
governo assume, vem junto um novo pacote para a Educação, e não importa o
quanto se tenha avançado nos anos que passaram, não se faz uma avaliação para
manter os bons programas e modificar o que precisa ser modificado. A Educação
de um povo precisa estar acima de interesses políticos. Além de professores
comprometidos, governos comprometidos.
Obviamente as ideias expostas acima são
decorrentes de algumas reflexões como professora numa escola pública estadual.
Não estou tentando inventar a roda. Acredito que não há soluções mágicas e que
apenas um esforço conjunto entre sociedade e governo seja capaz de criar
condições para uma nova escola pública. Porque, como diz o ditado, a esperança
é a última que morre.
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