No ano de 1992, 111 presos foram mortos durante uma rebelião
na Casa de Detenção do Carandiru, na capital paulista. Desses 111, oitenta e
nove aguardavam julgamento no regime carcerário, ou seja, não eram condenados.
Passados 25 anos, o cenário não mudou muito: cerca de 40% dos presos no Brasil
são provisórios, segundo levantamento do Departamento Penitenciário Nacional
(Depen) feito em 2016. São quase 250 mil presos provisórios. Um raio X dessa
situação pode ser conferido no documentário Sem pena, de Eugênio Puppo.
Existe uma máxima que diz que todos são inocentes, até que se
prove o contrário. No entanto, não só no Brasil, mas principalmente por aqui,
essa máxima parece estar invertida: ninguém é inocente até que prove o contrário. Há
poucos dias, o reitor da UFSC,Luiz Carlos Cancellier de Olivo, de Santa Catarina, cometeu suicídio num shopping
de Florianópolis. Ele foi preso temporariamente
pela Polícia Federal, numa operação que investiga o desvio de verbas em bolsas
de educação à distância. Liberado, foi afastado do cargo. Mesmo não estando
preso, deveria estar se sentindo julgado e condenado pela opinião pública e
humilhado pela situação,preferindo tirar a própria vida.
É fato que grande parte da sociedade acredita que quem está
preso, é porque errou, é bandido, mau. É a lógica do bandido bom é bandido
morto, que justifica julgamentos antecipados, presunção de culpa e
linchamentos. Que destrói a vida de muitos inocentes. No livro
"Infâmia", a autora Ana Maria Machado nos leva a sentir na pele todo
a angústia de um funcionário público acusado injustamente de corrupção e nos
mostra como pode ser verdadeiro e cruel o ditado "criou fama, deite na
cama". Um exemplo de que falsas histórias podem destruir a reputação e a
vida de uma pessoa.
A justiça está cada vez mais invertida: inocentes são punidos
e encarcerados sem provas, enquanto que os piores ladrões e bandidos, a
despeito das fartas evidências e indícios, das gravações, dos helicópteros recheados de cocaína e malas repletas de dinheiro,
continuam livres.
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